quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O filho que eu quero ter

É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer

Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho
Dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim
Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim
Dorme, menino levado
Dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus
Dorme, meu pai, sem cuidado
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter 

Toquinho e Vinícius

domingo, 11 de setembro de 2011

O meu lugar

Antes de qualquer coisa
O meu lugar..
é o "lugar comum" de todos!

E mesmo conhecendo bons hoteis
e fartos cafés da manhã

Nada se compara à acolhida da minha cama
e ao pão fresco à mesa da minha morada!

Em qualquer manhã...
a qualquer dia!

E lá, jamais ousarei comparar a mais singela peça que repousa sobre a prateleira
ao luxo e beleza de outros lugares
Estou certo de que está é única
e de uma beleza que não se compara!

Até mesmo as lembranças...
são legítimas
e não carecem de explicações no meu habitat!
Falam por si só!

Nem mesmo o calor incômodo
avesso à amenidade das belas montanhas que existem por ai
contrariam meu bem estar
Ele faz jus à minha necessidade

E isto me basta!

... o "bom dia" sincero da velhinha que passa pela rua...
a desordem provocada por "minha criança"...
Tudo parece ser mais "eu" no meu lugar"

As paredes e suas marcas
seu cheiro, os aromas e as cores
a vida que surge em flor em meio as azaléias do jardim

e sim...
minhas prinicpais razões

Uma que me faz homem...
outra que faz pai!

Tudo me faz melhor
Tudo faz o meu lugar!

domingo, 7 de agosto de 2011

O jardim

Faz um ano que passei por aqui
e mais uma vez, quanta coisa se passou!
E mesmo sendo um clichê ou um ciclo...
me surpreende perceber a evolução!

O tempo passa e invariavelmente mudamos!
a experiência que sorvemos a medida em que se passam os dias, é certa!

Me sinto bem ao ver que não estamos parados
e que envelhecer pode ser um processo...
tal qual o vinho que jaz em uma adega
e com o tempo só melhora!

É verdade que nem tudo são flores!
Mas o meu jardim há de continuar lindo...
sempre a florescer!

terça-feira, 29 de junho de 2010

A noite

Não são todas, as noites que nos revelam uma surpresa!

Poderia por elas, as noites,
me deixar levar a contento
satisfazer o que busquei em um vão momento
e depois me deitar e dormir, dormir!

Mas não são todas as noites que enchem os corações!

Temo conhecer os passos dessa estrada
que me levam noite a dentro
e nunca sei onde vai dar!

Ainda assim, não são todas, as noites em que me vejo acalanto!

Prefiro ainda acreditar no homem e em sua essência
e viver a minha inocência
e a transparência de ser feliz!

As noites já não são iguais!

sexta-feira, 19 de março de 2010

O complemento

Um grande amigo, ainda comentando meu último escrito, decidiu completá-lo, e sua despretenciosa intenção não poderia ter sido melhor...

"Deus, permita-me sonhar e transformar este sonho em realidade. Faça-me juíz e ao mesmo tempo juíz, anjo e demônio. E principalmente, faça-me feliz com o que puder ter e o que construir para minha vida."

Carlos Eduardo Moraes

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Oração do que não crê

Oh Deus!

Dai me paciência para esperar...
ou sabedoria para entender a demora!

Serenidade para lidar com minhas limitações
Transforma meus minutos em horas!

Dai me amor para dar aos meus amores!
Paladar para todos os sabores!

Dai me o vinho e também o pão!

Dai me tudo o que eu não pedi
por achar demais pedir tudo!

Confia em mim
e em minha verdade
também em toda minha intenção!

O que eu quero não é muito!

Quero apenas o que todos querem!

Quero o meu "sim" e o meu "não"

Quero "tudo ao seu tempo"
Quero tudo agora!

Não quero ter que esperar
E esperar para ter!

Quero inovação
ambição
força
mais amor
coragem
e a fé que nunca tive...

e que talvez seja maior do que a fé de muitos
e dos mundos que eu vivo!

Quero poder acreditar em mim mesmo
e em tudo o que esta por vir

seja como for!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Soneto do amor total


Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

E a vida?

Vida efêmera
Vida tudo
Vida nada
Viver é isso
Viver é nada
E é assim
num dia se está
no outro não!
Porque tudo isso
será tudo em vão?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Andança

Como é bom admirar o universo das descobertas de tudo que é tão simples e que depois deixamos passar pelo óbvio!
Como é bonito vê-la com a disposição de quem pode dar a volta ao mundo sem se cansar!
Como é bom assistir a chegada da liberdade plena, pura e simples que é a de poder andar com os próprios pés num caminho ainda a se traçar!
Entre outras coisas ver o mundo sob outra perspectiva...
Correr...
...e novamente brincar
mas só que agora com a mobilidade que não havia antes do medo!
com a agilidade que não havia antes do passo!
Como é bom contemplar a mais pura forma da inocência...
como é bom!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A falta e o tédio

Os dias andam tão longos que *"é um tédio que é até do tédio arroja-me á praia"
muito o que fazer e nem tanta vontade assim
sigo levando um amontoado de coisas em mim!

Sinto-me inerte no fluxo das horas
enquanto espero a todos que eu quero
para então estarem a minha volta!

...o desejo de quem ama!
...a angustia de quem tem saudades!
querer nunca estar só!

É como se tivessemos tudo
e nada estivesse em nossas mãos!
conforta saber que se tem...
frustra não ter como tocar!!

Mesmo que seja um breve momento
e não seja motivo suficiente para meu total desalento
melhor é saber que em minha vida
meus amores sempre irão estar!

* Trecho retirado do poema Lisbon Revisited - 1926- Fernando Pessoa